Na tarde de sábado, o Botafogo foi eliminado pelo Palmeiras nas oitavas de final do Super Mundial de Clubes da Fifa. E, ao contrário do que se esperava de um projeto com selo SAF, o clube respondeu à derrota com o mais manjado dos hábitos do futebol brasileiro: a demissão do treinador.

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Renato Paiva foi dispensado menos de duas semanas depois de ser exaltado como “o melhor treinador do mundo” por John Textor, dono, presidente e mecenas da SAF botafoguense. Entre o beijo teatral no rosto do técnico, no calor da vitória sobre o PSG, e o bilhete azul carimbado após o revés contra o Palmeiras, passaram-se exatos dez dias. O tempo de um surto emocional — e o retrato perfeito da contradição que rege o comportamento de Textor desde que assumiu o comando do Botafogo.

John Textor, o dono da SAF do Botafogo, demite o técnico Renato Paiva ainda nos Estados Unidos / Instagram

Lamentavelmente, o empresário americano abandonou a promessa de racionalidade que deveria ser o esteio de qualquer clube-empresa. E, ao agir como um torcedor mimado, se iguala aos piores dirigentes do velho futebol brasileiro: imediatistas, passionais e reféns da tabela.

Modelo SAF ou de Textor?

A demissão de Paiva escancara o que há de mais falacioso na retórica de modernização promovida por alguns clubes que aderiram ao modelo SAF. Ao menor sinal de tropeço, o discurso corporativo é substituído por chiliques passionais. E a “empresa” se curva ao humor do dono. Textor, que se vendia como gestor profissional, virou apenas mais um cartola com grife.

A verdade é que Renato Paiva nunca foi o técnico dos sonhos de Textor. A sua contratação foi fruto de recusa após recusa — uma escolha emergencial depois que o Botafogo fracassou nas tentativas de seduzir três outros nomes. Desde o início, faltou respaldo, convicção e, sobretudo, respeito ao treinador escolhido. Um erro grave para quem prega planejamento.

Dono e treinador

Mais grave ainda é o que se diz nos bastidores: que houve tentativa de interferência direta de Textor na escalação do time, algo considerado um desvio ético inaceitável no mundo da bola. Nenhum treinador que se preze aceita ingerência desse tipo. Ao tentar brincar de técnico, Textor corroeu a autoridade de Paiva e destruiu a relação de confiança mínima que sustenta qualquer trabalho no futebol profissional.

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Essa postura não é apenas condenável. Ela é perigosa. Porque contamina o ambiente para qualquer futuro treinador que venha a assumir o time. Quem aceitar o cargo a partir de agora saberá que trabalha sob o olhar controlador de um dono que se comporta como chefe de torcida organizada.

Ideia de futuro

O caso de Renato Paiva é, no fundo, um sintoma de algo maior: a ilusão de que as SAFs resolveriam os males do futebol brasileiro por decreto. Textor chegou prometendo profissionalismo, estrutura, autonomia técnica, blindagem contra pressões externas. Entregou impulso, vaidade e um festival de incoerências. O Botafogo não foi eliminado apenas da competição. Foi eliminado de sua própria ideia de futuro.

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