“Ninguém apostava em nós”. A frase pode parecer um clichê típico de técnicos após grandes vitórias, mas nas palavras de Renato Gaúcho, depois do 4 a 2 do Fluminense sobre o Ulsan, o desabafo veio carregado de ironia e provocação. O alvo eram analistas, torcedores e grande parte da imprensa, que, antes da bola rolar no Super Mundial de Clubes, tratavam os times brasileiros como figurantes previsíveis diante da elite europeia.

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Mas, ao fim da segunda rodada da fase de grupos, o roteiro ganhou tons de subversão: os quatro representantes do Brasil estão invictos, todos lideram seus grupos, e o Flamengo já garantiu classificação antecipada para as oitavas — e em primeiro lugar.

Abertura do jogo do Palmeiras com o Al-Ahly no MetLife Stadium, em New Jersey: brasileiros competitivos / Palmeiras

Não era esse o combinado. O senso comum apostava no peso dos cofres europeus, no abismo técnico entre os continentes e na possibilidade de vexames sul-americanos. Em vez disso, vimos um Botafogo vencer o Paris Saint-Germain, o Flamengo atropelar o Chelsea, e Palmeiras e Fluminense exibirem competitividade e organização contra adversários que, em teoria, vinham com vantagem de elenco e experiência internacional.

Oito jogos sem perder

No agregado, são oito jogos, seis vitórias, dois empates e o melhor aproveitamento entre todos os países na competição (83,3%). Números que ninguém previu — e que, por isso mesmo, pedem análise e reflexão.

Há quem tente relativizar. Dizem que os europeus estão desgastados pelo fim de temporada, que o calor dos Estados Unidos favorece os sul-americanos, que a motivação para um torneio inédito é desigual. Argumentos compreensíveis — e até parcialmente verdadeiros. Mas como bem pontuou Renato Gaúcho, o risco é cair na tentação de transformar surpresa em desculpa.

Jogadores do Flamengo precisaram de duas partidas para encaminhar a classificação às oitavas do Mundial / Flamengo

O que está acontecendo no Mundial de Clubes merece mais do que racionalizações preguiçosas: exige uma atualização no nosso olhar sobre o futebol brasileiro. Nem viralatismo, nem ufanismo, apenas um outro olhar sem julgamentos definitivos.

Brasil aprende a segurar atletas

Porque, sim, o Brasil segue sendo exportador compulsivo de jovens talentos. Mas também está aprendendo a reter peças importantes, a montar elencos mais profundos, a equilibrar estrutura, preparação e leitura tática. Não é coincidência que os quatro brasileiros cheguem bem: todos têm elencos experientes e competitivos, e convivem com um calendário exaustivo, que, por contraste, tem lhes conferido um lastro físico e mental talvez subestimado diante dos europeus em fim de ciclo.

Jornalistas espanhóis e ingleses ouvidos nesta semana pelo GE fizeram um diagnóstico revelador: jogador por jogador, os europeus ainda estão um degrau acima, especialmente os que competem na Champions League. Mas, nas palavras de um repórter britânico, “os brasileiros seriam incrivelmente fortes na Liga Europa”.

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A frase, dita com tom analítico, soa como elogio velado — mas ajuda a dimensionar o momento. O futebol brasileiro, por enquanto, não precisa provar que é o melhor do mundo. Basta mostrar que pode competir. E é exatamente isso que está fazendo.

Sonho retomado

A fase de grupos ainda não acabou. E o mata-mata pode — e vai — impor outros desafios. Mas se a missão dos brasileiros era apenas sobreviver, eles decidiram viver. E com isso, reacendem uma ambição que há pouco tempo parecia utópica: sonhar com um título que, para muitos, já havia sido descartado antes mesmo de o sonho começar.

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