No futebol, certos feitos parecem reservados apenas às lendas. E, nesta terça-feira, o goleiro Fábio pode escrever o seu nome de forma definitiva na eternidade do esporte. Se entrar em campo contra o América de Cali, pela Copa Sul-Americana, o camisa 1 do Fluminense chegará a 1.391 partidas e se tornará, sozinho, o jogador com mais jogos disputados na história do futebol profissional. Um recorde que, até pouco tempo atrás, parecia inalcançável, guardado nas luvas do inglês Peter Shilton, até então o profissional com o maior número de presenças em campo (1.390) segundo a Fifa.

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A façanha ganha ainda mais peso quando se lembra da posição que Fábio ocupa. Ser goleiro é viver à beira do abismo: é a função mais solitária, a mais ingrata, a que carrega as culpas quando tudo dá errado e quase nunca recebe os louros quando tudo dá certo. De modo que no Brasil, a maior vítima dessa lógica cruel é Barbosa, condenado a carregar para sempre a dor do Maracanazo de 1950. Não por acaso, diz o ditado que “onde o goleiro pisa não nasce grama” — um simbolismo perfeito para resumir a dureza da profissão e o drama solitário de quem vive na meta.

Fábio, goleiro do Fluminense, pode entrar para a história com o Fluminense e para o livro dos recordes / Fluminense

Mas Fábio transformou maldição em história. Aos 44 anos, com quase três décadas de carreira, o que se vê é um atleta que dignificou sua posição. Desde os primeiros passos no União Bandeirante, passando pelo Vasco, pela longa e vitoriosa trajetória no Cruzeiro e, mais recentemente, pela fase no Fluminense, ele foi um exemplo constante de disciplina, profissionalismo e dedicação. Treinou, cuidou do corpo e da mente, atravessou derrotas duríssimas e títulos gloriosos, sem nunca perder a serenidade. Cumpriu sua jornada como um sacerdócio. Portanto, raramente se viu Fábio envolvido em polêmicas e escândalos extra-campo.

Ser goleiro é uma missão para Fábio

Sua vida tem sido dedicada à missão de ser goleiro. Os números contam parte dessa história. Foram 976 jogos pelo Cruzeiro, 234 pelo Fluminense, 150 pelo Vasco e 30 pelo União Bandeirante. No sábado passado, contra o Fortaleza, ele já havia igualado a marca de Peter Shilton: 1.390 partidas. Agora, prestes a assumir o topo isolado do ranking mundial, Fábio olha para trás e agradece.

Deus me deu esse dom. Tenho de agradecer a todos que fizeram parte da minha vida.
FÁBIO

E, ao lado do recorde, está o peso das comparações. Pelé, o maior de todos, somou 1.341 partidas na carreira. Rogério Ceni, ídolo eterno do São Paulo, ficou em 1.265. Roberto Dinamite, com 1.245, e Cristiano Ronaldo, ainda em atividade, aparecem na sequência. Outros grandes nomes, de Roberto Carlos a Zico, completam a lista dos mais longevos.

Trata-se de um legado

Mas não se trata apenas de estatística. É um legado. E de representatividade. Portanto, é de mostrar que, numa posição marcada pela solidão e pela crueldade, é possível erguer uma carreira calcada no respeito e na grandeza. Fábio, com sua serenidade de veterano, seus reflexos ainda vivos e sua fé inabalável, é um exemplo raro no futebol moderno. Exemplo para os garotos que sonham vestir uma camisa de clube, para os que acreditam que dedicação ainda é um valor, aos que enxergam no esporte mais do que números e troféus.

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Assim, ao alcançar o recorde mundial de jogos, Fábio se torna mais do que um goleiro. Torna-se símbolo de resiliência, de profissionalismo e de dignidade. A grama pode até não nascer onde ele pisa, mas o futebol hoje lhe deve uma reverência.

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