Dos grandes Campeonatos Nacionais do mundo, o Brasileirão é o mais imprevisível. Não é o de mais alto nível nem o de jogadas mais plásticas. É o de maior dificuldade para se compreender o que irá acontecer, pelo menos entre os disputados em dois turnos e 30 a 38 rodadas. Meu bom amigo André Rizek discorreu com argumentos distintos na semana passada. Disse ele que a força do dinheiro tem tornado o Brasileirão mais compreensível, mais fácil de se prever. Não deixa de ser verdade que, desde 2016, Flamengo e Palmeiras são candidatos ao título todos os anos. E que esta quase onipresença dá a noção de que tudo mudou.
Mas não mudou, ou pelo menos, ainda não. Até domingo à tarde, o Cruzeiro era o líder do Brasileirão. Os cruzeirenses terminaram o campeonato de 2024 em nono lugar. O Botafogo, campeão do ano passado, foi quinto em 2023. Desde 2016, um time abaixo do terceiro lugar não ganha o campeonato da Inglaterra. Daquela vez, foi o Leicester, 14º do ano anterior. É o único caso na Premier League.

Na Espanha, desde que o Valencia terminou em quinto lugar a temporada de 2003 e conquistou o torneio seguinte, nunca mais um time abaixo do terceiro lugar num ano conquistou o campeonato seguinte. A Espanha é o melhor exemplo, porque a “espanholização” virou substantivo, sinônimo de que o Brasileirão terá um domínio igual ao de Barcelona e Real Madrid na Liga. Dizia-se isso sobre Corinthians e Flamengo no início da década de 2010. Virou Palmeiras e Flamengo.
Nos últimos 21 campeonatos espanhóis, Barcelona e Real Madrid terminaram como campeão ou vice em 17 vezes. Só em 2008 (Villarreal foi vice), 2019 (Atlético foi vice), 2014 e 2021 (Atlético foi campeão) não houve esta hegemonia.
Flamengo e Palmeiras
No Brasil, nas últimas dez temporadas, estas em que se fala sobre supremacia Flamengo-Palmeiras, só uma vez os dois gigantes terminaram como campeão e vice. Só em 2018, quando o Palmeiras foi o vencedor e Rubro-negro ficou em segundo lugar. Mesmo assim, o São Paulo foi líder até a 26ª rodada. Ou seja, não houve polarização.

Em 2016 e 2019, torneios com disputa direta pelo título entre palmeirenses e rubro-negros, o Santos foi vice-campeão. Dos últimos dez Brasileirões, cinco times diferentes conquistaram o troféu: Atlético-MG, Botafogo, Corinthians, Flamengo e Palmeiras. Na mesma contabilidade, foram quatro os vencedores na Inglaterra e Itália, três na Espanha e na França e dois na Alemanha.
Mercado exportador
Foram seis na Argentina, mas com a particularidade de dois torneios por ano ou de mudança de formato durante essas temporadas. O fator mais determinante de hegemonia na história do Brasil não foi o dinheiro. Foi Pelé. Entre 1960 e 1969, o Santos conquistou seis de doze títulos nacionais e oito de dez Estaduais. Não tinha o que fazer.
No Brasil de hoje, o vício de vender jogadores jovens, o mais rapidamente possível, exige mudanças constantes de elencos e equilibra campeonatos que poderiam se desequilibrar apenas pelo dinheiro. Mas ainda não é assim.





