No início, foi um lampião. Na esquina iluminada do Bom Retiro, em 1º de setembro de 1910, nasceu o Sport Club Corinthians Paulista. A chama que guiou aqueles operários, carregada de simplicidade e ousadia, transformou-se na centelha de um gigante. Daquela noite modesta, entre sonhos e promessas, começou a se escrever a saga de um clube que aprenderia a viver na pele o significado de luta, resistência e paixão.
De lá para cá, são 115 anos de uma caminhada tortuosa. Um percurso que nunca foi linear: glórias inesquecíveis, quedas dolorosas, crises de identidade, renascimentos improváveis. O Corinthians é, talvez, o retrato mais fiel do povo que o sustenta: sofre, apanha, tropeça — mas não desiste. E é essa resiliência que fez do preto e branco a cor mais viva da cidade de São Paulo.

Ao longo da história, títulos se acumularam. Campeonatos estaduais e nacionais, conquistas internacionais, dois Mundiais, uma Libertadores invicta — ápices de uma trajetória que consagrou ídolos e marcou gerações. Mas o que sempre sustentou o Corinthians foi a sua gente. O “bando de loucos” que canta nas arquibancadas, que enche estádios mesmo nos piores momentos, que fez do clube não apenas uma instituição esportiva, mas um fenômeno social e cultural.
Não há motivo para festa
Por isso, neste 1º de setembro de 2025, a data deveria ser de festa. Porém, o clima é outro. Porque, ao mesmo tempo em que o Corinthians celebra 115 anos de existência, carrega também o peso de uma crise profunda. Uma dívida superior a R$ 2,6 bilhões estrangula as finanças. A gestão se mostra incapaz de responder aos desafios e a credibilidade da instituição encontra-se fragilizada. O risco da insolvência, antes uma hipótese distante, hoje é um perigo real.
É duro admitir: não fosse a grandeza da torcida, não fosse a força comercial da marca, o Corinthians já teria sucumbido. Não fosse a paixão incondicional que move milhões, a instabilidade política e os erros administrativos já teriam arrastado o clube para o abismo.

A data redonda, em vez de ser apenas comemorativa, precisa ser simbólica. Mais do que nunca, é dia de reflexão. Como foi que o Corinthians chegou até aqui? Como um clube que ergueu arenas, que conquistou o mundo, que se acostumou a estar no centro das atenções, permitiu-se mergulhar em tamanho descontrole? Por que os dirigentes, conselheiros e sócios aceitaram esse caminho sem freio, sem responsabilidade e sem compromisso com a sustentabilidade da instituição?
Sem norte
O que se vê hoje é um elenco desequilibrado, dificuldades em campo que refletem a precariedade fora dele, improvisos em série e a dependência de jovens da base para tapar buracos de um planejamento mal executado. Mas, mais grave que qualquer resultado de campeonato, é a sensação de que o Corinthians perdeu o rumo. De que não há um norte claro para os próximos anos.
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Os 115 anos deveriam servir de inspiração. Da chama do lampião à luz que sempre brilhou no peito do torcedor, há uma história que não merece ser traída por gestões irresponsáveis. Hoje não é dia de bolo, de fogos ou de discursos fáceis. É dia de assumir responsabilidades, de encarar os erros, de buscar soluções urgentes e de recolocar o Corinthians no caminho que a sua torcida exige e que a sua história cobra.
Atrás de um futuro digno
Porque o Corinthians é maior do que qualquer dirigente, maior do que qualquer crise, maior do que qualquer dívida. Mas até os gigantes correm riscos quando insistem em ignorar os sinais de perigo. E neste 1º de setembro de 2025, mais do que nunca, o maior presente que o clube poderia se dar é um futuro — um futuro digno da sua origem, da sua história e, sobretudo, da sua gente.





