Há muito tempo a seleção brasileira não entrava em campo com uma vocação ofensiva tão clara. É verdade que o adversário era o Chile, nosso maior freguês da história, retraído e resignado no Maracanã. Mas nem por isso deve ser ignorado o mérito do time de Carlo Ancelotti, que escalou uma equipe vertical, agressiva, com quatro atacantes e o lateral Wesley praticamente como um quinto homem de frente. Assim, o resultado foi um massacre em ritmo e volume de jogo, que só não terminou em goleada histórica por causa da falta de pontaria nas dezenas de finalizações no primeiro tempo. Ainda assim, o 3 a 0 soou como a medida justa de um Brasil que se impôs do primeiro ao último minuto, sem aquelas amarras da linha de quarto zagueiros, dois volantes marcadores e atacantes de beirada que mais se preocupam em marcar o lateral do que em atacar.
Como é bom ver o Brasil jogar como Brasil. O primeiro gol saiu aos 37 minutos, depois de longa insistência. João Pedro acionou Douglas Santos, que encontrou Raphinha em condições de finalizar. O goleiro Vigouroux fez a defesa, mas Estêvão, com a naturalidade de quem já nasceu para esses momentos de brilho, emendou uma puxeta e abriu o placar. Golaço! Era a vitória se desenhando cedo, em mais uma noite em que o Chile mal conseguia reagir.

No segundo tempo, mesmo com várias alterações, a seleção manteve o pique, comandada por Luiz Henrique, que entrou no lugar do Estêvão e deitou e rolou pra cima dos chilenos. De modo que ele participou diretamente do momento mais emblemático da noite. Em bela jogada individual pela esquerda, o ex-botafoguense cruzou no segundo pau e encontrou Lucas Paquetá, que tinha entrado em campo havia exatos 40 segundos.
Luís Henrique neles
O meia, que viveu meses de angústia sob acusação de manipulação de resultados e chegou a ser ameaçado de banimento do futebol, mandou a bola para a rede de cabeça e renasceu no Maracanã com um gol que parecia escrito pelo destino. Quatro minutos depois, de novo com participação de Luiz Henrique, foi Bruno Guimarães quem deixou o seu, fechando o marcador em 3 a 0.
A vitória vale pouco em termos de tabela. O Brasil já estava classificado para a Copa e o Chile apenas cumpria tabela como lanterna da competição. Mas o que se viu em campo ultrapassa os números. Ancelotti já se mostra determinado a devolver à seleção a essência que tantas vezes a transformou em potência mundial.
Um ato contra a mediocridade
E aqui está o ponto central: Carlo Ancelotti não veio ao Brasil para jogar pequeno. Ele não se esconde atrás da calculadora de pontos, não arma a equipe para empatar fora de casa, não teme ser criticado por arriscar. Mas Ancelotti joga para ganhar, e mais do que isso, para fazer o Brasil voltar a ser Brasil. O que vimos no Maracanã foi mais que uma vitória protocolar sobre um rival frágil. Foi um ato político contra a mediocridade que tomou conta da seleção nos últimos anos. Um recado de que o tempo do medo acabou.
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Se havia uma noite para marcar esse reencontro com a identidade, foi esta. Entre o gol de um garoto de 18 anos, Estêvão, e o renascimento de um veterano como Paquetá, a seleção se olhou no espelho e se reconheceu. E é Ancelotti, com a autoridade de quem não precisa provar nada a ninguém, quem recoloca o Brasil no caminho de ser protagonista — não apenas pelos títulos, mas pela forma de jogar. Como o Brasil costuma jogar…





