O futebol, às vezes, devolve lembranças que o torcedor preferia esquecer. A derrota do Brasil para o Japão por 3 a 2, nesta terça-feira, se encaixa nesse cenário. Uma virada inédita e dolorosa, não apenas pelo ineditismo do resultado — a primeira vez que o Japão vence o Brasil —, mas pela forma como tudo aconteceu: um apagão coletivo, daqueles que desestruturam o time e expõem fragilidades que pareciam superadas.
O Brasil vencia por 2 a 0 e controlava o jogo. Mas bastou um gol japonês para que tudo desmoronasse. Em vinte minutos, a seleção sofreu três gols, ficou completamente perdida em campo e reviveu, em menor escala, o colapso emocional do 7 a 1 no Mineirão. As proporções são outras, o contexto é outro, mas a essência do problema é a mesma: a incapacidade de reagir diante da adversidade.

Carlo Ancelotti foi direto na coletiva. Disse que o problema não foram erros individuais, mas o desequilíbrio mental coletivo após o primeiro gol. E tem razão. É natural que o técnico não queira apontar culpados em público, especialmente num momento de testes. Mas, a despeito da tentativa de proteger o grupo, o segundo tempo em Tóquio deixa marcas. Vários jogadores que ganharam chance nessa convocação de testes — Fabrício Bruno, Hugo Souza, Joelinton, Beraldo, Carlos Augusto — saem com chamuscados com o peso de terem participado de um colapso.
O Japão amassou o Brasil
O placar é apenas um detalhe, mas o modo como ele aconteceu é um alerta. O Japão não apenas virou o jogo: amassou o Brasil no segundo tempo. Houve domínio técnico, tático e psicológico. O adversário se impôs como raramente se vê diante de uma seleção pentacampeã. Foram três gols em vinte minutos, com pressão, intensidade e confiança — exatamente o oposto do que mostrou o Brasil no mesmo intervalo de tempo.
Perdeu o controle emocional
A derrota não invalida o trabalho de Ancelotti, nem apaga as boas sensações criadas desde a sua chegada. Mas serve como freio. E como ponto chave no trabalho que precisa ser feito para controlar esses apagões mentais da equipe. Não dá mais para ficarmos reféns desse detalhe, que Ancelotti chama de “atitude”. Fora o 7 a 1 do Mineirão, nas últimas Copas o Brasil perdeu jogos em situações semelhantes para adversários inferiores, mas mais centrados emocionalmente nos momentos de pressão. Depois da goleada sobre a Coreia do Sul, o ambiente era de euforia, de confiança plena na reconstrução. O jogo contra o Japão veio para lembrar que o processo não será linear. Que a seleção ainda é vulnerável quando perde o controle emocional.
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E talvez essa seja a verdadeira lição do apagão de Tóquio: não basta talento nem apenas organização tática. É preciso maturidade. Ancelotti começa a entender que reconstruir o Brasil para a Copa de 2026 não significa apenas escolher os nomes certos, mas formar um grupo que saiba reagir quando o jogo se quebra. Porque o fantasma do 7 a 1 ainda vive — e, como o Japão mostrou, pode reaparecer a qualquer momento em novas formas de colapso.