O futebol brasileiro chegou ao fundo do poço em suas categorias de base. A eliminação da seleção sub-20 ainda na primeira fase do Mundial da categoria, após duas derrotas e um empate, é um marco histórico — e negativo. Pela primeira vez, o Brasil caiu na fase de grupos, terminando na lanterna com um ponto, três gols marcados e um futebol sem alma. A derrota por 1 a 0 para a Espanha, no Chile, sacramentou o vexame.
No dia seguinte, a CBF demitiu o técnico Ramon Menezes, encerrando uma passagem que já durava seis competições, mas que nunca convenceu. Ramon foi um jogador regular, um profissional correto, mas jamais fez por merecer o emprego de luxo que ocupou na entidade. Mesmo sem conquistas relevantes, virou uma espécie de intocável dentro da estrutura da CBF, chegando até a comandar o time principal na vacância de um nome de peso.

Mas o problema, agora, é muito maior que ele. A demissão de Ramon é apenas a superfície de uma crise estrutural. A questão que a CBF precisa responder não é quem será o próximo técnico da sub-20, mas, sim, o que quer das suas seleções de base. Porque, até aqui, o que se vê é um sistema sem método, sem integração e sem rumo.
Com a assinatura de Ancelotti
A saída de Ramon abre uma rara oportunidade de revisão profunda. É o momento de redesenhar a metodologia, o plano de trabalho e, sobretudo, o propósito das equipes de formação. E esse novo projeto precisa nascer sob a supervisão direta de Carlo Ancelotti.
Com contrato até a Copa de 2026, Ancelotti é o nome certo não apenas para liderar a seleção principal, mas para coordenar uma reconstrução de longo prazo. O ideal seria que o italiano permanecesse por pelo menos cinco anos, estabelecendo um sistema integrado entre base e profissional, com princípios técnicos e táticos compartilhados, acompanhamento constante e avaliações conjuntas.
Chega de feudos isolados
A CBF tratou suas seleções inferiores como feudos isolados. Falta unidade, falta diálogo e falta uma ideia de futebol que conecte as gerações. É um erro de gestão e de cultura — um vício que o Brasil insiste em repetir, enquanto outras nações evoluem. Alemanha, França e, sobretudo, Espanha estruturaram sistemas de formação capazes de garantir renovação contínua. Até a Argentina, com trabalho planejado e transição suave, construiu o caminho que a levou ao último título mundial e já vislumbra um futuro pós-Messi.

O Brasil, ao contrário, vive de lampejos individuais. A cada fracasso, o diagnóstico é o mesmo — e as soluções, sempre paliativas. Quantos garotos desse fiasco sub-20 terão chance real de chegar à seleção principal em dois anos? Quem está sendo preparado para substituir Neymar, que talvez nem dispute mais uma Copa? Quantas vezes Ancelotti observou um treino das categorias de base? Quantos relatórios de desempenho chegaram a suas mãos?
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As perguntas ficam sem resposta. Mas é preciso que elas guiem o recomeço. O futebol brasileiro precisa parar de tratar a base como um campeonato à parte — e começar a vê-la como o alicerce da reconstrução de um projeto de seleção. O vexame no Chile é a prova mais dolorosa de que o modelo atual morreu. E, talvez, o ponto de partida de algo novo — se a CBF tiver coragem para reformar o sistema, não apenas trocar o treinador.