Enfim, uma boa notícia vinda da CBF. A partir da primeira rodada do Campeonato Brasileiro de 2026, o VAR passará a contar com recurso do chamado impedimento semiautomático, tecnologia já usada com sucesso em grandes ligas da Europa e nas competições da Fifa. Já era esperado. Trata-se de um sistema mais moderno e preciso, que elimina a necessidade — e a fragilidade — da intervenção manual dos árbitros de cabine para traçar as linhas de impedimento.

Rodrigo Cintra, da comissão de arbitragem da CBF, não acredita numa padronização dos árbitros para 2026 / CBF

É um passo adiante na busca por decisões mais justas, menos sujeitas ao erro humano e às intermináveis discussões que contaminam o jogo e o debate pós-rodada.

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Mas o avanço técnico, por si só, não será suficiente para corrigir a crise de credibilidade que envolve a arbitragem brasileira. E o maior exemplo disso foi dado justamente no mesmo dia em que o novo sistema foi anunciado. Em pleno evento oficial, o presidente da Comissão de Arbitragem da CBF, Rodrigo Cintra, declarou que sonhar com critérios uniformes nas decisões dos árbitros é algo “utópico”, especialmente num país como o Brasil, onde o campeonato é, segundo ele, um dos mais difíceis do mundo.

Presidente da CBF, Samir Xaud, promete nova tecnologia ao impedimento, mas está longe de resolver o problema / CBF

Ora, é preciso espantar a naturalidade com que o chefe do apito nacional se permite dizer isso em público. É sintomático — e preocupante — que, dentro de um programa que nasceu com o objetivo de melhorar a transparência e a padronização das decisões, o dirigente máximo da arbitragem admita, de antemão, que uniformidade de critérios é um sonho impossível. Se o comando já parte da descrença, como esperar progresso entre os comandados?

Desserviço de Rodrigo Cintra

Quando se cobra “critério”, não se fala apenas em padronizar decisões entre diferentes árbitros. Cobra-se, antes de tudo, coerência do mesmo juiz dentro do mesmo jogo. O que se vê, rodada após rodada, é o árbitro marcar falta num lance e, minutos depois, ignorar outro idêntico. Um cartão amarelo num campo se transforma em simples advertência no outro. Tudo depende da camisa, da pressão da arquibancada, da localidade, do humor ou do acaso. Essa volatilidade mina a confiança de jogadores, técnicos e torcedores — e expõe o futebol brasileiro ao ridículo das contradições.

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Rodrigo Cintra, ao relativizar o problema, presta um desserviço ao debate. Em vez de liderar a busca por um padrão de excelência, escolhe se resignar diante da dificuldade. Se é verdade que a subjetividade humana faz parte do jogo, cabe à entidade reduzir seus efeitos: mais treinamento, mais alinhamento, mais segurança para quem apita. A diferença entre falhar por limite e falhar por desorientação está aí — na preparação e na clareza dos critérios.

‘Somos humanos’ virou desculpa

É evidente que não se pode exigir dos árbitros a perfeição das máquinas. Mas tampouco se pode normalizar o erro como se fosse característica intrínseca da função. O “somos humanos” não pode continuar sendo o álibi institucional da CBF. Com o impedimento semiautomático, o futebol brasileiro dá um passo importante rumo à modernidade tecnológica. Resta saber se, fora das telas e dos sensores, haverá disposição para modernizar também o pensamento — e a postura — de quem comanda o apito.

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