A maioria dos clubes das duas principais divisões do futebol brasileiro, A e B, teme que a CBF faça com o fair play financeiro o mesmo que fez, segundo dirigentes ouvidos pelo The Football, com o calendário nacional: mudar tudo sem ouvir os times. Há muitas queixas em relação à conduta do presidente Samir Xaud em relação à participação dos clubes nas decisões. Pior: os presidentes de clubes estão desconfiados de que o fair play venha de cima para baixo, forçando os clubes a “engolirem” as novas regras financeiras.

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The Football ouviu de um dirigente importante que o presidente anterior da CBF, Ednaldo Rodrigues, ouvia bem mais do que Samir. Alguns presidentes de clubes disseram para a reportagem que não estavam por dentro das discussões sobre o fair play financeiro que a CBF promete apresentar em novembro, com até três anos para ser implementado. A CBF se reuniu três vezes com os representantes dos clubes e das federações para falar sobre o assunto. Os dirigentes disseram ter dado algumas informações e bem poucas sugestões. A preocupação dos clubes é que alguns poucos estariam sendo consultados, como os “mais próximos” de Samir e dirigentes de federações mais “amigas”. A CBF nega.

Presidente da CBF, Samir Xaud, promete um plano de fair play financeiro para os clubes em novembro / CBF

A entidade se defende das acusações e faz questão de ressaltar a boa convivência com os clubes nas decisões da entidade sobre o futebol. “A participação ativa dos clubes é uma premissa do Grupo de Trabalho do Sistema de Sustentabilidade Financeira do Futebol Brasileiro. Os clubes participaram das três reuniões até agora, sempre tiveram amplo espaço para dar opiniões e sugestões e isso vai continuar durante a implantação do novo sistema. O advogado Marcos Motta foi indicado pelo Flamengo e, como tal, fez parte de algumas dessas reuniões”, respondeu a CBF ao The Football.

Eleitores aclama Samir

Vale lembrar que Samir Xaud foi candidato único e eleito no dia 25 de maio deste ano, um domingo, por unanimidade. Foram 26 federações, menos a de São Paulo, de Reinaldo Carneiro Bastos, e os clubes da primeira e da segunda divisão.

De acordo com as informações apuradas pelo The Football, sem a presença ativa dos clubes e das Federações (os maiores interessados no fair play financeiro), a CBF se cerca dos profissionais da casa para definir as regras do novo projeto. Basicamente, a preocupação é uma só: fazer com que os clubes de futebol gastem menos do que arrecadam. Os dirigentes reclamam que há muitos detalhes financeiros que poderiam ser discutidos com os times, de modo a “ajudar” a todos nesse processo de recuperação financeira. O Corinthians, por exemplo, tem uma dívida de R$ 2,7 bilhões. E não sabe como pagá-la. O presidente do São Paulo, Julio Casares, ainda não tem informações sobre o fair play da CBF.

Advogado do Flamengo é conselheiro

“Tivemos a informação de que o advogado Marcos Motta, ligado ao Flamengo, estaria ajudando a CBF nesse processo. Ele é muito competente, mas é do Flamengo. O ideal é que outros advogados, de outros clubes ou regiões do país, também participassem das discussões de forma efetiva. Mas o presidente Samir tem decidido tudo sozinho“, disse um importante presidente esportivo ao The Football.

San Siro, em Milão: estádio do Milan, que já foi punido pela Uefa por não cumprir regras do fair play financeiro / Divulgação

Não há data definida para a apresentação do fair play financeiro da CBF, mas a promessa de Samir Xaud é que isso ocorra em novembro. A entidade deve seguir o modelo da apresentação do calendário do futebol de 2026 até 2029. No entanto, a queixa é que a CBF faz tudo sozinha, que usou desse mesmo expediente para definir o calendário do futebol e faz a mesma coisa em seu projeto do fair play financeiro. Há muito descontentamento.

Modelos de fair play financeiro

Há vários modelos de fair play financeiro no futebol. Suas regras variam de país para país, de liga para liga, mas basicamente a finalidade é a mesma para todos: controlar os prejuízos dos clubes, controlar os gastos com salários e contratações e controlar o endividamento anual. Na Europa, a Uefa exige declarações regulares de que os salários dos atletas não estão atrasados. Isso não existe no Brasil.

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Em 2019, a entidade excluiu o Milan da Europa League porque o clube italiano teve prejuízo de 121 milhões de euros em três anos seguidos. Ele ultrapassou o teto máximo de 90 milhões de euros nas somatória de três temporadas. Da mesma forma, em 2020, o Manchester City escapou de uma punição na Liga dos Campeões por ter, supostamente, alterado os valores de patrocínios, mas a decisão foi revertida.

Inglaterra e Espanha

Na Premier League, há um limite de prejuízo de 15 milhões de libras no acúmulo de três temporadas, de modo que todo o aporte financeiro aos clubes não ultrapasse 105 milhões de libras. Na Espanha, há um teto de gastos para os clubes com salários e contratações de 70% da receita anual. A diferença entre contratações e vendas de jogadores também não pode ultrapassar 100 milhões de euros. No Brasil, sabe-se, por hora, apenas que a CBF tenta regularizar que os clubes gastem menos do que arrecadam e que passem a controlar e a pagar anualmente parte de suas dívidas acumuladas de décadas.

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