Quando a FIFA anunciou que aumentaria a quantidade de países classificados para a fase final da Copa do Mundo de 2026 de 32 para 48 seleções, era previsível que países, que, historicamente, eram barrados do melhor da competição, enfim conseguissem garantir uma das vagas. No entanto, o que poucos imaginavam era que, com a adição de mais dezesseis vagas disponíveis, seleções tradicionais ficassem de fora do torneio, em versão revisada e ampliada.
E é, precisamente, isso que está acontecendo na África, que poderá qualificar entre nove e dez seleções para o próximo Mundial. Eram cinco as vagas que o continente teve na Copa de 2022, no Catar. Antes que a bola rolasse nas partidas das Eliminatórias, nem o mais improvável dos palpites cravaria que Camarões, que possui jogadores badalados, como o meia Frank Anguissa, do Napoli, e goleiro André Onana, do Manchester United, passaria apuros para carimbar o passaporte para o que poderia ser o nono mundial da sua história.
Antes da última rodada, que definirá as seleções africanas a disputar o próximo mundial, a seleção que tinha maiores chances de se classificar no grupo era Cabo Verde, um país que fala Português, com uma população estimada em cerca de meio milhão de habitantes.

Vitória e um sonho
Na 70ª posição no mais recente Ranking da FIFA, os tubarões-azuis, como são conhecidos os cabo-verdianos, surpreenderam ao vencerem os todo-poderosos camaroneses na antepenúltima rodada e, mais ainda, ao chegar à última rodada na liderança, com seis vitórias, dois empates e uma derrota e dois pontos de vantagem sobre os rivais. Para que possam disputar o Mundial de 2026, tudo o que os tubarões-azuis precisam é vencer, em casa, a fraca seleção de Essuatíni, que ocupa a última colocação do grupo e que não venceu nenhum dos jogos que disputou nas eliminatórias.
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E, por pouco, a classificação de Cabo Verde para a próxima Copa não foi consumada de maneira heroica já na penúltima rodada. Após o time estar perdendo por 3 a 1 para a Líbia, no estádio adversário, em Trípoli, os cabo-verdianos conseguiram fazer dois gols e empatar. Segundos antes do fim do jogo, o atacante Jamiro Monteiro fez um gol que foi anulado por suposta posição de impedimento. Mas não estava.
Nascido na Holanda, assim como outros três dos convocados, Monteiro é um dos catorze jogadores da seleção do técnico Pedro Leitão Brito, apelido Bubista, que não são naturais de Cabo Verde. Nesta legião de filhos de emigrantes a serviço do técnico, há cinco atletas que nasceram na França, três em Portugal, um na Suíça e um no Eire.

Do LinkedIN para a Copa
O irlandês do time é o zagueiro Roberto Lopes, conhecido como Pico. Filho de mãe irlandesa e pai cabo-verdiano, que emigrou para trabalhar como chef de cozinha em navios de cruzeiro, Pico passou a vida em Dublin, joga pelo Shamrock Rovers, um dos principais clubes da maior cidade irlandesa e não era sequer fluente na língua paterna. Acabou sendo rastreado quando Rui Águas, o antecessor de Bubista, fez uma pesquisa com nomes de atletas com raízes em Cabo Verde.

O treinador encontrou o perfil do zagueiro no LinkedIN e enviou-lhe um convite para jogar pela seleção do país dos antepassados da família paterna. Ficou esquecido na caixa de mensagens de Lopes, que só visualizou uma nova mensagem do técnico, nove meses depois, desta vez em Inglês, questionando se ele havia pensado na proposta. Foi assim que os cabo-verdianos ganharam um xerife para a sua defesa.