A coletiva de Carlo Ancelotti em Seul vai muito além da mera formalidade de um jogo de perguntas e respostas. Às vésperas do amistoso contra a Coreia do Sul, o técnico da seleção brasileira voltou a oferecer um retrato lúcido — e cifrado — sobre o estágio de maturação do time que conduzirá à Copa de 2026. Entre respostas medidas e elogios pontuais, emergiu nas entrelinhas um recado claro: o Brasil precisa pensar mais como equipe e menos como vitrine para protagonistas de ocasião.

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O treinador reconhece que ainda há muito a ser feito no plano tático, mas deixa evidente que o verdadeiro desafio não está na prancheta. Está na cabeça — e na atitude — dos jogadores.

A parte mais importante não é a estratégia, é a atitude dos jogadores no campo. Para isso, não é preciso muito tempo para preparar.
ANCELOTTI

A frase acima sintetiza uma convicção antiga de Ancelotti: a de que um sistema, por mais elaborado que seja, só funciona quando sustentado por um senso coletivo. E é nesse ponto que o italiano parece enxergar o principal obstáculo do Brasil. Em meio a tanto talento disponível, o risco de cada um jogar a sua própria partida é real. E ele quer, antes de tudo, evitar que a seleção se transforme num mosaico de individualidades.

Carlo Ancelotti tem um plano para a seleção brasileira na Copa: seu jogo é coletivo e nunca individual / CBF

Gostei muito do jogo defensivo da equipe em junho e setembro. O time defendeu muito bem: compacto, unido, com compromisso, intenso… Onde a equipe deve melhorar é no jogo com a bola. Temos muita qualidade individual, mas é preciso jogar um bom futebol. ANCELOTTI

Ancelotti sabe que o tempo é curto e que as datas Fifa não permitem ensaios prolongados. Por isso, a prioridade não é desenhar novas estruturas, mas consolidar comportamentos. O treinador alternou esquemas — 4-2-4 nas vitórias sobre Paraguai e Chile, 4-3-3 no empate com o Equador e na derrota para a Bolívia —, mas relativizou a importância desses números. “Você pode jogar com quatro, com três, com um, com cinco (no ataque)… Não muda muito”, disse o treinador italiano.

Ideia do jogo

O que muda, para ele, é o grau de comprometimento com a ideia de jogo. É esse o filtro que começa a definir quem terá espaço na convocação final para a Copa. E, no subtexto de suas falas, o treinador parece avisar: quem se contentar em buscar holofotes individuais vai acabar na sombra.

Jogadores da seleção precisam trabalhar de forma coletiva: essa é a ideia de Ancelotti para o Brasil na Copa / CBF

Ao contrário de outros tempos, quando a seleção oscilava entre o improviso e o estrelismo, o Brasil de Ancelotti tenta nascer de um pacto coletivo — um projeto em que o talento é ferramenta, não distração. O técnico italiano trabalha com serenidade, mas fala com firmeza: o que ele quer construir não é um show de astros, e, sim, um time capaz de jogar pelo espírito da tal “Pátria de Chuteiras”, e não pelo espelho.

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Mais do que um ajuste técnico, trata-se de um resgate simbólico. Depois de anos de instabilidade e desconfiança, a seleção volta a ser pensada com método, propósito e hierarquia. Ancelotti não promete reinventar o futebol brasileiro — apenas devolvê-lo à sua essência. E essa essência, ele parece lembrar a cada coletiva, não nasce do improviso nem do estrelismo, mas da soma silenciosa de todos. O hexa, se vier, não será de um craque: será de uma ideia coletiva de sucesso.

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