Mais uma rodada do Campeonato Brasileiro termina com o árbitro de vídeo ocupando o protagonismo que não deveria ser dele. Só esse simples fato já revela o tamanho do problema. Quando o VAR vira assunto principal, o futebol vira figurante. E foi exatamente o que vimos nesta rodada. Em Bragança Paulista e em Belo Horizonte, por exemplo, a arbitragem ditou o rumo das partidas — e a tecnologia tomou para si uma autoridade que ultrapassa os limites do bom senso.
Veja o diálogo do VAR
Rogério Ceni, sem meias palavras, creditou a Rafael Traci, árbitro da cabine de vídeo, a derrota do Bahia por 3 a 0 para o Atlético Mineiro. Já Dorival Júnior, mesmo num tom mais moderado, também apontou a falta de critério da arbitragem de Edina Alves para explicar o tropeço do Corinthians diante do Red Bull Bragantino.

O pano de fundo que sustenta a opinião dos dois é o mesmo: o VAR brasileiro extrapola o papel para o qual foi criado, assumindo uma função intervencionista demais.
O VAR opera guiado por opinião
Nascido para corrigir erros factuais, flagrantes inquestionáveis, ele se transformou por aqui em uma instância de interpretação subjetiva, que revisa — e muitas vezes derruba — a decisão do árbitro de campo em lances nos quais não existe certeza alguma. Passou a operar guiado por opinião, não por evidência. E isso subverte completamente sua razão de existir.
Os áudios divulgados hoje pela CBF do jogo em Bragança Paulista são autoexplicativos, a prova mais recente de como a cabine interfere, pressiona e assume o comando do jogo. Edina Alves, insegura, virou coadjuvante do VAR — especialmente sob a condução hiper intervencionista de Rodrigo Guarizo Ferreira do Amaral. Uma arbitragem conduzida pelo ponto eletrônico, não pelo apito.

Com isso, árbitros perdem seu papel natural, jogadores sentem a fragilidade e a partida descamba para um caos de reclamações, cartões e tensão. A autoridade, fundamento essencial do comando de jogo, desaparece.
Veja a transcrição de Bragança
E, quando isso acontece, não há tecnologia que salve o espetáculo. Vejam a transcrição de um dos diálogos da equipe de arbitragem em Bragança no lance da expulsão de Charles, e tirem sua própria conclusão:
Elenco
Árbitra — Edina Alves Batista
Assistente 1 — Fabrini Bevilaqua Costa
Assistente 2 — Miguel Cataneo Ribeiro da Costa
VAR — Rodrigo Guarizo Ferreira do Amaral
AVAR — (não identificado no áudio transcrito)
AUXILIAR 1: “Manda embora, Edina. Deu um tapa na cara do cara.”
ÁRBITRA: “O que aconteceu aqui? Quem viu?”
AUXILIAR 2: “Eu vi o empurrão, mas não sei se pega no rosto.”
AUXILIAR 1: “Eu vejo um tapa, mas não sei se acerta ou se ele finge que acerta.”
VAR: “É um tapa no braço, ele dá um tapa. Não dá um soco, ok?.”
AVAR: “Tem uma outra situação depois dessa. Continua aí. Segura, Edina. Segura.”
VAR: “Segura, segura…”
VAR: “Ele dá um tapa no rosto do adversário.”
AVAR: “…vê se pega.”
VAR: “…pega.”
VAR: “Você (AVAR) vai mostrar essa ação aqui.”
AVAR: “O 35 dá um tapa na cara, né?”
AUXILIAR 1: “Ô Edina. A falta foi lá atrás, Edina. A falta foi lá atrás.”
VAR: “Aguarda, gente. Aguarda.”
VAR: “Edina, qual foi sua ação disciplinar?”
ÁRBITRA: “Fabrini, se você viu um tapa na cara…”
AUXILIAR 1: “Eu vejo um tapa do 35, mas eu não sei se acerta.”
ÁRBITRA: “Para vermelho?”
AUXILIAR 1: “Eu vejo, mas não sei se acerta. Está muito longe.”
ÁRBITRA: “Fabrini, vermelho?”
AUXILIAR 1: “Eu vejo, mas não sei se acerta. Eu vejo ele dando o tapa e vejo o cara caindo. Mas eu não sei se ele acerta. O loirinho. O 35 lá.”
VAR: “Edina, checado e confirmado. O número 35 desfere um tapa no rosto do seu adversário.”
Nada mais precisa ser dito. O áudio expõe uma arbitragem fraturada, insegura, sem convicção. A auxiliar chama Charles do Corinthians de “o Loirinho”, como se estivesse num fortuito jogo de várzea. O árbitro de vídeo toma a frente, o árbitro de campo perde a autonomia — e a credibilidade do futebol vai junto.
VAR deveria ser indispensável
O VAR é indispensável. Mas, se continuar desse jeito, será indispensável apenas para destruir a fluidez do jogo, multiplicar polêmicas e esvaziar a confiança do torcedor. O problema já não é pontual. É estrutural. O Brasil está conseguindo o feito inacreditável de destruir a credibilidade da ferramenta que foi criada justamente para salvá-lá.





