A final da Copa Libertadores entre Flamengo e Palmeiras escancara um debate que vinha sendo empurrado com a barriga pela Conmebol: a adoção definitiva do jogo único em sede escolhida antes mesmo do início da competição. Um modelo importado da Champions League — e, como quase tudo importado do futebol europeu, tratado como modernidade incontestável.
Na Europa, a dinâmica funciona
As sedes são anunciadas com pompa, sempre em estádios icônicos e em cidades que respiram futebol, transformando a disputa em um grande evento turístico e comercial. Há cultura para isso. Há logística para isso. E também há identidade para isso.

Na América do Sul, não. O nosso futebol se fez ao modo oposto: finais em ida e volta, cada cidade vivendo ao extremo a intensidade do jogo decisivo, com o estádio como extensão do território emocional de cada torcida. Ninguém aqui se acostumou a viajar para ver seu time decidir longe de casa — porque a casa sempre fez parte da história das grandes conquistas.
Conmebol insiste
E agora paga o preço de uma escolha tomada por antecipação, quando ainda não se sabia quem chegaria à final. Definiu Lima como sede, mesmo enquanto o Peru atravessa um de seus momentos políticos mais conturbados. E, como se não bastasse, o confronto é justamente entre dois clubes brasileiros de gigantesca torcida, gigantesca rivalidade e gigantesca expectativa por uma festa que — ironicamente — acontecerá distante de tudo o que cerca esse duelo.

A CBF ensaiou questionar a escolha e tentar trazer o jogo para o Brasil. Mas aí esbarramos em outro impasse: onde jogar para que se preserve a suposta “neutralidade” de Lima? São Paulo e Rio estão imediatamente descartados por razões óbvias. Brasília, segundo maior reduto de torcedores do Flamengo fora do Rio, daria vantagem aos cariocas. Minas Gerais e as principais capitais do Nordeste tenderiam à mesma assimetria. Belém, em alta com a COP-30? Também não resolve. Curitiba? Porto Alegre? Toda alternativa carrega prós e contras — e troca-se um problema por outro.
E há ainda os compromissos comerciais: contratos firmados, transmissões acertadas, milhares de torcedores com viagens planejadas e hotéis reservados. Tudo isso torna inviável qualquer mudança a esta altura.
O que sobra é o alerta
Se toda essa discussão aflora no momento mais esperado da temporada sul-americana, é porque algo está muito errado na ideia da sede única. Errado porque desrespeita a cultura local. Errado porque distancia o torcedor de sua própria história. Porque interessa mais aos que lucram com a engrenagem comercial do que aos que dão sentido ao espetáculo.
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Que esta final sirva, ao menos, para expor de vez a contradição: copiar o modelo europeu não nos torna europeus. Apenas nos afasta daquilo que fez a Libertadores ser o que ela é — o futebol mais visceral do planeta, a glória eterna, seja aonde for!





