Flamengo e Palmeiras parecem cada vez mais destinados a polarizar não apenas o Brasileirão, mas também a Libertadores. Ambos completaram a rodada da última segunda-feira com vitórias que dizem muito sobre a qualidade de seus elencos e, sobretudo, sobre a maneira como são conduzidos à beira do campo.
Para além da constelação de craques reunidos após aportes significativos na janela de transferências, os dois times mostram a cada jogo que são coletivos muito bem treinados. Há trabalho invisível no refinamento tático e na eficiência técnica, e isso é mérito direto de Abel Ferreira no Palmeiras e de Filipe Luís no Flamengo. Não reconhecer a mão dos dois treinadores na excelência exibida é uma cegueira imperdoável — mesmo que torcedores mais passionais sigam na bobagem de cobrar estética acima de resultados.

O Palmeiras deu talvez a demonstração mais clara de que nada acontece por acaso. O gol de Gustavo Gómez na vitória por 3 a 0 sobre o Sport nasceu de um escanteio ensaiado, daqueles que quase não se veem no futebol brasileiro. Foram quatro toques até a conclusão: Kelvin bateu curto, Lucas Evangelista ajeitou para Maurício, que cruzou de primeira, e Gómez completou de cabeça. Movimentos técnicos perfeitos, sincronizados, que mostraram um trabalho pensado e treinado. Portanto, um contraste gritante com os cruzamentos aleatórios que transformam 90% dos escanteios em jogadas banais e infrutíferas. O Palmeiras trabalha até a bola parada.
8 a 0 do Flamengo
A 400 quilômetros do Allianz, o Flamengo escreveu seu próprio espetáculo: uma goleada histórica por 8 a 0 sobre o Vitória. Foi a maior goleada da era dos pontos corridos. Não foi apenas uma vitória, foi um massacre que carimbou a excelência do elenco rubro-negro e deu selo de qualidade ao trabalho de Filipe Luís. Há pelo menos dois méritos principais. Primeiro, a precisão na escolha e no encaixe imediato dos reforços. Saúl e Samuel Lino chegaram e já parecem parte natural de um grupo liderado por Arrascaeta, Pedro e Jorginho, como se todos tivessem nascido juntos no Ninho do Urubu.
Lembra o Barcelona de Pep
Depois, a voracidade ofensiva: um time que não se contenta com o resultado, joga os 90 minutos em busca do gol e sufoca o adversário com intensidade, pressionando alto para recuperar a bola. Em muitos momentos, esse Flamengo lembra o Barcelona de Guardiola no modo de retomar a posse para impor o jogo.

O que une Flamengo e Palmeiras, além da força individual e do peso de seus elencos, é a uniformidade. Eles jogam em casa ou fora com a mesma autoridade, o mesmo padrão, a mesma confiança para impor o seu futebol. Não dependem de circunstâncias, gramado ou atmosfera: sabem quem são e o que querem em campo. É bonito de ver. Reconforta perceber que o futebol brasileiro ainda pode se orgulhar de clubes que traduzem virtude em organização, talento em disciplina e qualidade em resultado. Portanto, que sirvam de exemplo. E que Abel Ferreira e Filipe Luís sejam reconhecidos pelo que de fato são: dois treinadores que transformaram seus times em referências.





