A guerra entre Palmeiras e Flamengo segue viva, intensa e cada vez mais distante das quatro linhas. Agora, o duelo é jurídico. A mais nova disputa entre os dois gigantes do futebol brasileiro envolve o atacante Bruno Henrique, em um episódio que reacende o debate sobre a isenção da Justiça Desportiva.

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Nesta segunda-feira, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) adiou pela segunda vez o julgamento de Bruno Henrique, acusado de envolvimento em um esquema de apostas esportivas. O jogador do Flamengo foi denunciado por ter forçado um cartão amarelo em 2023, em partida contra o Santos, no Mané Garrincha, beneficiando apostadores, inclusive parentes, que lucraram com a infração.

Leila Pereira: presidente do Palmeiras condena promotores do STJD no caso de Bruno Henrique / Agência Palmeiras

Em setembro, o STJD chegou a condená-lo a 12 jogos de suspensão, mas o Flamengo recorreu e obteve efeito suspensivo — o que permitiu ao atacante seguir em campo normalmente, decidindo partidas e marcando gols enquanto o caso se arrasta no tapetão.

Bruno Henrique joga com liminar

Paralelamente, a Procuradoria do próprio tribunal também recorreu, pedindo o aumento da pena. A indefinição jurídica criou um impasse, com quatro possíveis desfechos: absolvição, redução, manutenção ou ampliação da suspensão. E enquanto o tribunal hesita, a bola continua rolando — e o Flamengo segue contando com o jogador, o que não parece aceitável sob o ponto de vista da ética esportiva.

Para o Palmeiras, o caso tem uma agravante. Isto porque, horas antes do adiamento do caso Bruno Henrique, o STJD confirmou a punição de duas partidas ao garoto Allan, do Palmeiras, por um lance comum de jogo. O contraste da atuação dos meritíssimos foi o estopim para que a presidente alviverde, Leila Pereira, rompesse o silêncio e disparasse contra o tribunal.

O que disse Leila

“O Palmeiras sempre respeitou, e seguirá respeitando, as instituições, mas espera o mesmo respeito de volta. O que está acontecendo não é justo”, afirmou Leila em nota.
“Um atleta é condenado por uma infração grave e joga normalmente por dois meses, inclusive fazendo gols e decidindo jogos. Aí, quando finalmente é marcado o novo julgamento, vota-se pela absolvição deste atleta e a sessão é adiada. Enquanto isso, Allan, que era réu primário, pega duas partidas de suspensão por um lance de jogo e depois tem a punição ratificada pelo tribunal em pouco mais de 15 dias. Não queremos ser beneficiados, mas não aceitamos ser prejudicados.”

A dirigente concluiu com um apelo que soa mais como um alerta: “O Palmeiras espera que o STJD adote uma postura equilibrada, para que suas decisões não influenciem o curso de um dos campeonatos mais disputados dos últimos anos. Que o campeão seja decidido dentro de campo.”

Bruno Henrique, mesmo punido, mas com liminar no bolso, continuou ajudando o Flamengo dentro de campo / Flamengo

A fala de Leila recoloca no centro do debate a credibilidade do tribunal. O adiamento sucessivo de julgamentos, a diferença no tratamento entre casos semelhantes e o peso político de certos clubes reforçam uma percepção incômoda — a de que nem sempre as decisões seguem apenas o critério jurídico, técnico, no rigor dos textos legais.

Jogo decidido fora de campo

Não é a primeira vez que o Flamengo se vê favorecido por interpretações convenientes da Justiça Desportiva, e o mais grave é que o STJD parece pouco preocupado com o desgaste que isso gera. A justiça que hesita diante da pressão dos bastidores corre o risco de perder sua autoridade moral — e de transformar o futebol num jogo decidido fora de campo.

O futebol brasileiro precisa de uma corte desportiva que não se amedronte diante dos holofotes nem se deixe seduzir por eles. Que aplique a lei com rigor e coerência, independentemente da cor da camisa. Porque, quando o tribunal passa a ser percebido como mais um campo de disputa, o esporte inteiro perde sua legitimidade.

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