Passaram-se vinte anos, mas o Internacional ainda tenta reescrever o enredo final do Brasileirão de 2005. A direção colorada voltou a movimentar-se nos bastidores para reivindicar, junto à CBF, a divisão do título com o Corinthians — campeão oficial do torneio. O argumento é o mesmo de sempre: o Inter teria sido prejudicado por erros de arbitragem vinculados ao escândalo da “Máfia do Apito”, que estourou naquele ano e atingiu em cheio a credibilidade do campeonato. É ali que nasceu a histórica rivalidade entre os dois clubes, resumida na célebre provocação: “põe no DVD”!
A iniciativa, porém, soa mais como uma tentativa de ajustar a história à conveniência do que de fazer justiça. É compreensível o ressentimento de um clube que teve, de fato, bons motivos para se sentir lesado. O pênalti não marcado de Fábio Costa em Tinga, no jogo decisivo no Pacaembu, segue como ferida aberta na memória colorada. Mas transformar esse episódio em bandeira política duas décadas depois revela mais um gesto simbólico do que uma busca real por reparação.

O tempo, afinal, já julgou aquele campeonato. O Corinthians, beneficiado pelas circunstâncias e pela confusão institucional da CBF, foi declarado campeão. O Inter, indignado e orgulhoso, seguiu em frente e, no ano seguinte, conquistou algo bem maior: a Libertadores e o Mundial de Clubes. Foi ali, em 2006, que o clube lavou a alma — dentro de campo, sem tapetão, sem petições, sem revisionismo histórico.
Discussão do passado?
Ao insistir agora nessa cruzada jurídica, o Internacional se apequena. Reabre uma discussão que pertence ao passado e corre o risco de transformar um lamento justo em caricatura. O futebol, como a vida, tem suas injustiças — e parte da grandeza de um clube está em saber superá-las.
Em vez de perseguir o troféu de 2005 nos tribunais, o Inter faria melhor em tentar recuperá-lo naquilo que realmente importa: a competitividade esportiva. Porque, se há algo que o tempo ensinou, é que nenhuma ata da CBF é capaz de devolver o brilho que só o campo consagra. O movimento parte de um sentimento compreensível — o de quem se sentiu injustiçado.
Brasileirão manchado
Ninguém contesta que o campeonato de 2005 foi manchado. O próprio STJD anulou onze partidas apitadas por árbitros envolvidos no escândalo, e o campeonato virou um emaranhado jurídico. É natural que a ferida não tenha cicatrizado. Mas o que o Inter tenta agora é algo impossível: reescrever a história. O tempo do futebol não volta, e os resultados de campo, ainda que manchados, são parte do que constrói a memória do jogo. Não é com carimbos da CBF ou pareceres jurídicos que se limpa uma injustiça de vinte anos atrás.
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No futebol, devem prevalecer as decisões de campo. Mesmo quando ruins ou equivocadas, elas ainda são mais legítimas do que as sentenças de tribunais decididas por advogados e doutores em leis, quase sempre alheios ao espírito do jogo. O Brasil já coleciona exemplos de títulos definidos na canetada — o Paulistão de 1973, dividido entre Santos e Portuguesa; o reconhecimento da Taça Brasil e do Robertão como Brasileirões em 2010; e tantos outros episódios em que quem perdeu foi o próprio futebol.
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