“Graças a Deus não é todo dia que temos de enfrentar o Flamengo.” A frase foi dita por Hernán Crespo, no Maracanã, após a derrota por 2 a 0 na retomada do Brasileirão. E não há como tratá-la como um simples desabafo. Vinda de um técnico recém-chegado, soa como um grito de desespero. E, mais que isso, como uma espécie de constatação precoce, quase uma rendição, de que há muito trabalho pela frente. O novo comandante do São Paulo, em sua reestreia, já parece enxergar o que o torcedor vem temendo há algum tempo: a situação é grave. E o pior pode estar por vir se nada for mudado.
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Ao ouvirem a fala de Crespo certamente muitos torcedores devem ter lembrado com saudade do tempo em que o time era dirigido por mestre Telê Santana. Bons tempos aqueles… O São Paulo, que já foi modelo de excelência, hoje se apequena até no discurso.

A frase de Crespo, embora dita no contexto de uma análise realista do que foi o jogo, escancara o estágio em que o clube foi colocado — não por ele, mas por anos de administrações equivocadas, amadoras, muitas vezes autossuficientes. O São Paulo, que já desafiou gigantes, que foi tricampeão do mundo, hoje agradece a Deus por não ter de enfrentar o Flamengo com frequência.
Derrota aceita com passividade
A atuação no Maracanã não deixa margem para ilusões. O time não deu um único chute no gol adversário. Teve apenas um escanteio em toda a partida. Foi dominado com naturalidade, mesmo sem que o Flamengo precisasse pisar fundo. E, por mais que o placar não tenha sido elástico, a superioridade foi clara. O que mais preocupa, porém, é a postura: não houve reação nem revolta. O São Paulo se comportou como quem aceita o destino.
E esse destino, se não for desviado com urgência, é o da luta contra o rebaixamento. Com 12 pontos em 13 rodadas, o Tricolor vive seu terceiro pior início na era dos pontos corridos. Em 2021, sob o comando do próprio Crespo, terminou a mesma rodada com 11 pontos — após uma goleada por 5 a 1 sofrida exatamente para o Flamengo, no mesmo Maracanã. Quatro anos depois, a história se repetiu. Mas o roteiro, nem tanto: agora parece ainda mais sombrio.
A culpa era do Zubeldía
Será que o problema era mesmo Zubeldía e sua falta de ousadia? Parece cada vez mais evidente que não. Porque não há técnico no mundo capaz de fazer milagres num ambiente onde não há convicção, planejamento nem liderança real. O elenco é desequilibrado, limitado em vários setores, mas a causa do desmanche é mais profunda. Está na estrutura que sustenta o clube. Ou, melhor dizendo, na estrutura que deveria sustentá-lo — e hoje apenas o arrasta.

E há algo de cruel no momento em que tudo isso acontece. Justamente na semana em que se completam 20 anos da conquista da Libertadores de 2005, o São Paulo se vê num dos momentos mais preocupantes de sua história recente. É como se o brilho do passado, que deveria servir de referência, apenas ressaltasse o quão distante o clube está da grandeza que construiu.
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O contraste entre o time que encantou o continente e o que hoje mal consegue competir com um adversário regional é duro demais para ser ignorado. É simbólico. Tão simbólico quanto doloroso.
Quatro derrotas seguidas
Com quatro derrotas seguidas no Brasileirão, o São Paulo volta a campo nesta quarta-feira, contra o Red Bull Bragantino, fora de casa. Um novo tropeço pode ser a senha definitiva para a instalação do desespero. Porque, a essa altura, já não se trata mais de rendimento — mas de sobrevivência. E o primeiro passo para sair do buraco talvez seja admitir que o problema nunca esteve, de fato, no banco de reservas. Está acima dele. Bem acima.