Wilton Pereira Sampaio é, para todos os efeitos, o principal árbitro do futebol brasileiro. Tem no currículo duas Copas do Mundo — uma como árbitro de vídeo, outra como juiz de campo —, uma dezena de finais de campeonato nacional e participações em jogos de Libertadores e Eliminatórias. Em tese, é o nosso “árbitro de elite”. Na prática, é o retrato mais fiel da arbitragem brasileira: alguém que, mesmo reconhecidamente capacitado, carrega nas costas o descrédito generalizado de um sistema que se acostumou a errar e se proteger.
Wilton saiu do Maracanã, no último domingo, sob uma tempestade de críticas dos palmeirenses depois da derrota para o Flamengo por 3 a 2. Não sem razão! O clube questionou decisões pontuais, sobretudo um pênalti claro num empurrão de Jorginho nas costas de Gustavo Gómez logo no início da partida. A CBF, no entanto, tratou sua atuação como “segura”, sem grandes equívocos. Difícil saber o que é pior: o erro do campo ou a passada de pano da CBF.

Pênalti é pênalti
Dentro da entidade, a leitura é a de que “para marcar um pênalti, é necessário que seja um pênalti de verdade — e não uma defesa de tese”, como se não houvesse um amplo acervo de “pênaltis mandrakes” marcados pelo árbitro e pelo vídeo. O que parece uma frase de efeito é, na verdade, o resumo perfeito da distância entre o que o torcedor vê e o que o sistema decide enxergar.

O caso de Wilton, porém, vai além desse jogo. Ele é um personagem-síntese de um problema estrutural. É autoritário dentro de campo, usa o cartão como escudo e o VAR como muleta. Não apita, negocia decisões com o monitor, como se a tecnologia fosse um cofre onde guarda sua própria insegurança. Quando não erra por ação, erra por omissão. E, como tantos outros, parece blindado por uma estrutura que prefere preservar o árbitro a reconhecer a falência do modelo.

O juiz não passa despercebido
Nenhuma rodada termina sem que algum apitador seja acusado de incompetência, má-fé ou ambos. São os protagonistas de um espetáculo que deveria ignorá-los. Pior: são protagonistas porque o sistema os transforma nisso — não os prepara, não os responsabiliza, não os recicla. Os erros se repetem como um eco, e a cada semana o mesmo roteiro se cumpre: o time derrotado grita “roubo!”, o vencedor finge que nada aconteceu, e a CBF declara que tudo foi “seguro”.
Talvez o maior problema da arbitragem brasileira seja justamente a impunidade. Nossos juízes não são profissionais em tempo integral, não prestam contas públicas de suas falhas, não se submetem a uma transparência mínima. Erram, seguem escalados, e voltam a errar. E como ninguém é punido, o erro é banalizado.

Wilton Pereira Sampaio, com todo o seu currículo, carrega também todo o peso simbólico desse fracasso. É o juiz que representa o apito do Brasil. Um homem cercado de tecnologia, mas incapaz de transmitir confiança. Um profissional que chegou ao topo, mas representa um sistema que não sai do chão. E a pergunta, que já virou cansativa, continua sem resposta: até quando seguiremos assim — com árbitros sob suspeição, vencedores indiferentes e perdedores entoando a cantilena dos “roubados” da vez?





