A seleção brasileira voltou aos trabalhos neste sábado, na Granja Comary, em Teresópolis, iniciando a preparação para enfrentar a Bolívia, em El Alto, na terça-feira, às 20h30 (de Brasília), pela última rodada das Eliminatórias da Copa do Mundo de 2026. O jogo não vale nada em termos de classificação — a vaga já está garantida. Mas o treino trouxe um detalhe que, mais uma vez, reacendeu um debate: familiares, convidados e patrocinadores da CBF tiveram acesso ao campo. A imprensa, não.
Qual é a real necessidade de se abrir um período de trabalho para esse tipo de presença? O que, de fato, contribui para o rendimento esportivo? A questão é antiga, e a cada geração retorna com novas roupagens. Não há um histórico de problemas recorrentes na seleção, mas, sim, episódios pontuais, que já exigiram ajustes na política de convivência. O tema divide opiniões.

Nas Copas recentes, o Brasil já testou modelos distintos. Em 2018, a comissão técnica apostou numa política de humanização, permitindo a presença de familiares para dar suporte e leveza ao ambiente. Em 2022, houve um ajuste: manteve-se a ideia de humanizar, mas com mais cautela. A presença de parentes foi considerada positiva para a saúde mental dos atletas, embora tenha gerado críticas — como quando alguns familiares filmaram atividades fechadas enquanto a imprensa estava proibida de acompanhar. Pequenos gestos que expõem contradições.
Precisa disso mesmo?
Os argumentos a favor são claros: humanização, suporte emocional, alegria e descontração. Quem já viveu uma rotina de concentração sabe que ela pode ser desgastante. Ter a família por perto pode aliviar tensões e fortalecer vínculos. Mas os riscos também são evidentes: dispersão, conflitos pessoais que atravessam o ambiente esportivo, perda de foco. Até mesmo jogadores já admitiram que preferem se isolar do convívio externo durante torneios importantes para se dedicar integralmente ao trabalho.

O curioso é notar como a CBF alterna entre extremos. Fecha treinos, restringe jornalistas, ergue barreiras para blindar o grupo. Mas, de repente, abre espaço para convidados e patrocinadores, justamente no momento em que a preparação deveria ser mais silenciosa e concentrada. É nesse tipo de contradição que a seleção, tantas vezes, se complica.
Em Copas, dá até para entender
No fundo, não há resposta definitiva. Cada país, cada cultura e até cada geração de atletas lida de forma diferente com essa equação. A Alemanha em 2014, por exemplo, montou uma concentração que permitia convívio diário com familiares. E funcionou. Para o Brasil, historicamente, esse equilíbrio é mais frágil.
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O desafio está em não transformar um gesto de humanização em um fator de desorganização. O futebol de elite cobra profissionalismo absoluto — e a seleção não pode brincar com os próprios limites. Flexibilidade, sim. Mas sempre com bom senso, foco e clareza de propósito.





