Por Paulo Vinícius Coelho, o PVC
Todo dia alguém entra na sede da CBF querendo a queda de Rodrigo Cintra, coordenador da comissão de arbitragem do futebol brasileiro. Lembre-se de que ele é um dos últimos resquícios da gestão trágica de Ednaldo Rodrigues. Entre os vários diretores e vice-presidentes sem poder, os Bozós da CBF, já houve quem perguntasse ao vento se Carlos Eugênio Símon aceitaria conversar.
Mas há advogados de Cintra, com bons argumentos. Um deles, de que as críticas existiam quando o diretor era Wilson Luiz Seneme, antes com Leonardo Gaciba e haverá também com o próximo… e o próximo… e o próximo. O mistério é por que razão os árbitros brasileiros são elogiados quando atuam em competições internacionais, como Olimpíada e Copa do Mundo de Clubes, e brigam com a imagem quando atuam aqui dentro. Por quê?

Num encontro rápido com Ramon Abatti Abel, depois de Real Madrid x Borussia Dortmund. Abatti foi elogiadíssimo na Copa de Clubes. Acionou o protocolo antirracismo, expulsou dois jogadores do Real Madrid sem contestação durante o torneio, zero reclamação sobre o seu trabalho. Vem ao Brasil e em quatro dias ele foi criticado por parar muito Flamengo 0 x 0 Cruzeiro e por não dar um pênalti para o São Paulo, contra o Palmeiras.
Falta respaldo aos árbitros
Onde está a diferença? No respaldo. Neste ponto, pode fazer diferença ter um Armando Marques, um Arnaldo Cezar Coelho, um Carlos Eugênio Símon à frente da comissão. Os árbitros da década de 1990 dizem que não houve um presidente de comissão como Armando Marques. Quando havia um problema, convocava entrevista coletiva, batia no peito e jogava a pressão em sua própria couraça de aço.
“A arbitragem brasileira mudou muito. Hoje os árbitros são péssimos. E são honestos”, disse Armando numa entrevista no ápice da crise Alfredo dos Santos Loebeling. No fim da Série B de 2001, depois de uma invasão de campo em Figueirense x Caxias, Marques foi acusado por Loebeling de pressioná-lo a alterar a súmula. Ou seja, até o diretor de arbitragem mais elogiado cometeu o pecado capital de pressionar um árbitro.
É preciso profissionalizar
Houve escândalos em Portugal, Itália e Alemanha na década de 1970. Hoje, o comum é dizer que o VAR errou. Não, quem erra é a arbitragem. O árbitro está em campo e o vídeo existe para corrigi-lo de erros claros e óbvios. Por exemplo, o pênalti de Allan em Tapia. Neste caso, o árbitro errou e o VAR não corrigiu. Erros dos dois. Mas fundamentalmente do árbitro.
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Não se vai melhorar a arbitragem do Brasil sem profissionalismo, respaldo e compreensão de que a regra nasceu interpretativa. Foi assim em Cambridge, em 1863. Nasceu para ser um jogo de cavalheiros, em que os capitães definiriam as questões mais duvidosas. Depois, escolheu-se um cavalheiro alheio ao jogo para dirimir as dúvidas. Então, começamos a xingar o cavalheiro. Depois, a mãe do cavalheiro.
Quem apita é o árbitro de campo
Agora, criou-se o VAR (Vídeo Assistant Referee). Pela própria nomenclatura, um assistente. Então, quem apita é o árbitro de campo, com ajuda do vídeo, lá de cima. Agora, xingamos o árbitro de vídeo. E a mãe dele. O problema não é o futebol. É o ser humano. Muita gente ama o futebol. Pouca gente o entende como metáfora da vida, em que se ganha e se perde. Todos os dias.