Mais uma vez, dirigentes de torcidas organizadas do Corinthians tiraram um dia da semana para cobrar jogadores como se tivessem uma procuração especial, acima dos demais torcedores. Na tarde desta sexta-feira, representantes das principais facções, liderados pela Gaviões da Fiel, foram até o espaço de trabalho dos atletas para tirar satisfações sobre o desempenho no Brasileirão, depois da derrota no Recife para o Sport. Consideraram o resultado “inadmissível” e repetiram a ladainha conhecida: faltou vontade, raça, determinação, amor à camisa. A cartilha, escrita em dogma pelos que se autoproclamam guardiões da essência corintiana, não admite outra coisa senão ver o jogador “morrer em campo” pelo Timão.
O problema é que esse método, além de discutível, tem se mostrado absolutamente inócuo. O Corinthians já viveu incontáveis capítulos desse tipo nos últimos cinco anos, e o saldo esportivo continua sendo queda de rendimento, crises administrativas e temporadas frustrantes. Se a ideia é “fazer o time acordar”, a experiência comprova que a cobrança não gera resultado imediato. A não ser a exposição de um clube que parece refém de seus grupos organizados.

Pode ser até pior! Até porque, o contexto já é ruim. A três dias de enfrentar o Flamengo, no domingo, em Itaquera, essa “pressão externa” soa inoportuna e até contraproducente. Mas será que alguém acredita que um Corinthians claudicante no Brasileirão vai se reinventar só porque meia dúzia de torcedores exigiram suor e sangue no CT? Portanto, se a vitória vier — e em clássico tudo é possível —, será mérito do acaso do futebol, não da “cobrança” organizada.
Corinthians precisa mais que cobranças
É legítimo que o torcedor se manifeste, critique e cobre. Essa é parte da cultura do futebol e da identidade corintiana. O que se discute é a eficácia do modelo: não há indícios de que abordagens no centro de treinamento tenham o poder de transformar desempenho dentro de campo.
O Corinthians precisa mais do que esse tipo de cobrança episódica — precisa de estabilidade, projeto e soluções esportivas que vão além da paixão. E, convenhamos, de um time melhor. Um time que ao menos desse a esperança de um confronto nivelado com o Flamengo – o que hoje, comparando os elencos, é quase impossível.